Tim Gunn: Existe moda acima do tamanho 44?

Quando falei da parceria entre Roberto Cavalli e a C&A, a Micky, autora do blog Invicta Maquiagem, me perguntou se a coleção que está por vir seria contemplada com os tamanhos plus-size. Bom, a resposta para este questionamento eu ainda não sei, mas o fato de Tim Gunn – consultor de moda americano cujo trabalho admiro bastante – também ter levantando a discussão sobre esta questão da moda acima do tamanho 44 em entrevista para o The Huffington Post me fez pensar que esta é a hora certa para tratarmos do assunto. Existe moda acima do tamanho 44?Tim Gunn's Guide to Style

Como mentor e orientador dos participantes do programa de moda “Project Runway”, Tim Gunn supervisiona os muitos desafios do show. Parece que, a cada temporada, o mais difícil desses desafios é aquele em que os concorrentes devem criar roupas para mulheres “normais” – ao invés de roupas para o corpo de uma modelo.

Essa dificuldade que os concorrentes do programa sempre têm, diz Gunn, aponta para um problema maior de toda a indústria de moda. “Quando eu estou trabalhando no mundo real com mulheres reais e estamos fazendo compra, achamos que a moda parece ter fim quando você procura por qualquer tamanho maior do que um 44”, disse Gunn em entrevista para o portal The Huffington Post. “O quão ridículo é isso?”

Muito!!! Tim Gunn tenta orientar os competidores do programa e abrir as mentes dos jovens designers para a idéia de que a moda vai além da passarela, lembrando-lhes que há um mundo de mulheres por aí que não vestem tamanho 34.

“Eu já tive muitas vezes esse conversa franca com os designers e disse para eles: ‘Vocês sabem, há um mercado aqui para expandir o seu trabalho, e aqui está ele'”, revelou Gunn. “E, francamente, existem dois mercados: temos as mulheres que vestem acima do manequim 44, e também existem as mulheres petite. E a maioria dos designers com que eu falo não tem absolutamente nenhum interesse em vestir qualquer uma dessas mulheres, o que eu acho repugnante.”

Infelizmente, a indústria da moda geralmente assume que as mulheres maiores não se interessam por estilo ou tendências. Como muito bem colocado pela designer plus-size, Kenyatta Jones, muitas empresas trabalham com o seguinte estereótipo: “As pessoas gordas não precisam de roupas, tudo que eles fazem é comer.” As ofertas  para mulheres plus-size são limitadas.

O desafio, disse o ex-professor da Parsons School of Design, não é simplesmente fazer roupas maiores, mas repensar todo o processo de design. “Não se trata de redimensionar um manequim 38 para cima ou para baixo um”, disse ele, “É uma questão de redefinir conceitos. Algumas coisas caem bem numa mulher de certo tamanho e outras, simplesmente, não.”

Um bom ponto de partida seria repensar a questão do dimensionamento. “Eu vou usar como exemplo as medidas padrão de um vestido tamanho 40. Quando eu dava aula na Parsons, nós tínhamos as medidas padrão dos vestidos dos anos 80 e do início dos anos 90. A diferença entre a cintura em vestido tamanho 38 em 1981 e em um vestido em 2001 era de dois centímetros. Então, o que teria sido um 44 na década 80 é, na verdade um 40 hoje.”

Essa variação não só confunde os consumidores, mas também aumenta o estigma contra os tamanhos maiores. Nós nos tornamos menos familiares com os padrões de numeração e, portanto, menos confortáveis ​​vendo tamanhos maiores nas prateleiras – tamanhos 44, 46, 48. As mulheres não querem comprar roupas nesses tamanhos, e, assim, os designers cada vez mais se tornam menos propensos a desenhar roupas para esses tamanhos. “Eu acho que nós devemos apenas ser honesto sobre o que estes tamanhos significame não tentar fingir que eles algo que eles não são”, Gunn argumentou.

E o mesmo vale para a pequena extremidade do espectro. “O manequim padrão (para modelos de passarela) é 34 agora, mas este teria sido um tamanho 32 anos atrás”, Gunn apontou. “Quero dizer, há tantas modelos desfilando que nem sequer passaram pela puberdade, e isso não é o mundo real.” (Isso fica mais evidente, disse Gunn, quando falamos do fenômeno Andrej Pejic, um modelo masculino que desfila roupas femininas. “Os designers o amam porque ele não tem nenhum quadril”, lamentou Gunn, “e as mulheres nunca vão ter essa aparência.“)

Em suma, é hora de sermos honesto sobre os tamanhos e corpos – existem mulheres de todas as formas, incluindo as “plus-size“, e não há nada de errado em usar um tamanho acima de 38. “O mercado de roupas plus-size pode não ser suficientemente elegante agora… mas já é um bom começo se eu conseguir convencer os novos estilistas, a cada nova temporada de “Project Runway”, a começar a desenhar para este mercado”.

E aí? Concordam com Tim Gunn?

2 comentários sobre “Tim Gunn: Existe moda acima do tamanho 44?

  1. Primeiro, obrigada por ter mencionado o meu nome!!! Segundo, o mercado hoje em dia com a Internet e por “culpa” das bloggers está melhor do que já esteve, mas é verdade que ainda assim falta muito caminho para andar neste tema. Os estilistas não gostam de fazer tamanhos grandes porque dá muito trabalho, não basta cortar um quadrado de pano e colocar um cinto, é preciso modelar copas, dar espaço proporcional para as ancas, ajustar os comprimentos. Depois, há marcas como a Abbercrombie que pura e simplesmente diz que as pessoas gordas são feias e por isso não devem sequer ser vistas nas suas lojas ou com roupas da marca (palavras deles). E há outra coisa gritante, que é a lingerie. Sei que no Brasil não é bem assim, mas na Europa Continental é o caso: toda a gente tem que usar copa B. Se não usar copa B ou, na pior das hipóteses copa C, então não tem direito a um sutien bonito. Para já isso é impensável, e depois, com tanta gente a aumentar os seios, vamos obrigar essas mulheres a encolher o seu silicone em sutiens que não servem? Enfim…

    • Concordo que por culpa das bloggers o mercado da moda tem se democratizado, mas infelizmente ainda está bem longe do ideal. Pouquíssimos estilistas se esforçam para realmente criar para as mais cheinhas. Muitos pensam (e no caso da Abercrombie até dizem): ‘eu não quero que uma mulher que vista 46 ou 48 use as minhas roupas’. A falta de padronização na tabela de medidas também é outro problema. Aqui em lojas do Brasil, já aconteceu de eu vestir um manequim 46 por causa da peça ter uma modelagem de 42. E esse tipo de coisa mexe com o inconsciente da mulher. A gente acha que está engordando, mas na realidade são os tamanhos que estão diminuindo.

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